domingo, 1 de janeiro de 2017

NO TEMPO DA CARROCINHA JÁ HAVIA BIGODINHOS

   


 
    Fui à praia. Afinal, no primeiro dia do ano, é quase obrigatório o passeio.
     Busquei uma rua sombreada, pois o sol tinia mesmo ainda tão cedo. Fui caminhando devagar, observando as árvores, ouvindo seus cantos, absorvendo o ar sereno. O céu azul me inspirava doces pensamentos e paz no coração.
     Uns quinze minutos de caminhada e lá estava eu, em frente àquele mar que deslizava suas águas, atropelando surfistas amadores e banhistas incautos.
     Era muita gente. Resolvi sentar na cadeira que vagou de repente, num dos quiosques da orla. Pedi um coco geladinho que custou-me seis reais! Acho caro. Em Salvador sai a dois e é mais docinho.
     Passou um filme na minha mente, quando, há alguns anos, fui ao Arpoador, à tardinha, com a família para passear. Morávamos em Botafogo e fomos de carro. Não havia quiosques. Simplesmente uma carrocinha da Kibon. Pedimos alguns picolés e saboreamos apreciando a paisagem. 
     Como eu nunca tinha ido àquele lugar?!... Era deslumbrante. E apaixonei-me. Assim. De supetão.    
     Hoje, no primeiro dia do ano de 2017_ e espero que seja muito bom para todos nós_ vi a praia do Arpoador muito cheia! Pessoas diversas, cães,  moradores de rua... tudo misturado.
     Uns poucos correndo ou fazendo a caminhada de rotina; um ou outro corpo bonito, viçoso, vistoso; a maioria, disformes, feios, maltratados... Senhores tentando o equilíbrio em bicicletas no meio da multidão; senhorinhas sapecas tentando fazer pose com... cigarro?...
     Moças  exibiam suas bundas moles com orgulho, num farrapo chamado fio dental sem nenhum pudor; um rapaz, no seu pequeno mundo ilusório, a rebolar  com um gingado de fazer inveja a muitas mulheres, desfilava seu corpo na sunga comportada e colorida , cabelos bem cortados num tom loiro metálico. 
     Um casal e um senhor idoso aproximaram-se, pediram licença, colocaram dois cocos na mesa, cortaram e em cumbucas ofereceram aos seus quatro cachorros. Ao passarem a água dos cocos para os pequenos vasilhames, molharam a mesa, as cadeiras e o chão. Foram embora, deixando o rastro da deseducação.
     E quem quer ser educado? Quem quer respeitar o outro? Respeitar? O que é isso mesmo? Educação. Conhecimento. Convivência boa, amigável, confortável para todos. Ah! Sonho.
     Uma meia hora e já deu. Resolvo voltar. Nisso, chegam dois ônibus da Guarda. "Que maravilha!" , pensei. Saltaram somente dois... Dois jovens gordos, pançudos, cansados, já ofegantes, carregando cassetetes. Completamente despreparados, a meu ver. 
     Dirigiram-se ao Parque Garota de Ipanema para buscarem uma sombra!... E lá ficaram debaixo de uma frondosa árvore, conversando, trocando ideias, sem prestarem atenção ao movimento intenso ao redor. 
     Passei por eles preocupada. Mas, com os ouvidos treinados, percebi um som insistente. Um mavioso som. Claro, não era produzido pelo homem... não, não! Um passarinho, um pequeno pássaro, pousado num dos galhos da copada árvore trinava insistentemente. Olhei bem. Parecia , a princípio, que se tratava de um coleirinho, mas não era. Não apresentava aquele colar branco e preto. Este tinha a cabeça negra com três faixas brancas. Acho que encontrei um bigodinho.  
 
FELIZ ANO NOVO!
    
          

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