segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

TURISTA TAGARELA

 
     O mar estava um pouco mexido, mas as gaivotas enormes, lá pelas dez, mesmo assim  compareceram. Fartei-me destas águas e das  paisagens da praia da capital do mundo, Ipanema.
     Cheguei cedo, como de costume, senão a pele delicada não aguenta sob o sol escaldante e a barraca, por dez reais o aluguel, acho caro pra tão pouco tempo.
     Acomodava-me, o melhor que podia, na canga estirada na areia e relaxava, a cada retorno de um mergulho.
     Findo o prazo por mim mesma estabelecido, arrumo a mochila com o que tinha levado e volto, caminhando pela areia já quente, pés encaixados nas havaianas verdes , que ganhei de presente.
      Decido bebericar um coco geladinho, coisa rara, pois aprecio as bebidas na temperatura ambiente. Mas se resolvesse hoje desta maneira, por certo viria fervendo.
     Acomodei-me na  única cadeira à sombra do quiosque habitual e sorvi lentamente aquela água deliciosa. Ao lado, uma jovem incomodou-se um pouco com a minha decisão de sentar-me tão perto, apesar de estar em outra mesa...
     Não entendi muito bem , mas ali permaneci. Afinal, a presença do sol forte e impiedoso dominava o ambiente.
     Comecei a reparar ao redor. Nossa! Os barraqueiros, jovens das comunidades perto dali, assanhavam-se. Um mais ousado caminhou até nós e, passando pela moça, murmurou, caprichando no olhar: "_ Mas o que é isso, papai do céu!?" Com a entonação adequada a uma paquera!
     A bonita jovem não era daqui. Percebi logo. Mesmo com roupas comuns, próprias de praia, seus longos cabelos lisos e louríssimos chamavam a atenção. E eram de verdade! Notava-se a naturalidade da cor e dos fios lisos a correrem soltos, na brisa leve que vinha do oceano em nossa direção.
     Ela se mexia muito. Inquieta, virava o seu corpo pra cá, pra lá, percorrendo com os olhos, um tanto aflitos ,os caminhos. De repente, surge um rapaz muito simpático e ela, então,  se mostra aliviada.  Ri alto, feliz. Conversam, em inglês, animadamente. Até que ela passa a liderar e monopolizar . Chega mais um conhecido.
     Aguço a audição. Combinam viagens e citam Salvador, várias vezes. Tenta ser simpática e pede, em bom Português, um coco. Agradece também na nossa Língua.
     Observei o rapaz que sempre me atende educadamente, quando vou ali. Mas hoje, sua voz saiu mais límpida e forte, sua postura era exemplar, ombros pra trás, mostrando seu porte atlético. E grau dez em cortesia, com louvor! Atendeu à moça com exímia habilidade ao trazer o coco ,a tampinha dele e o canudo ainda no plástico.
     Estava animada a conversa... oh, não , não mais uma conversa! Agora, somente ela  falava, entusiasticamente, muito alto e pelos cotovelos, aos borbotões!... E os rapazes, pasmos, raramente conseguiam exclamar pequenas interjeições ao longo daquele metralhar de palavras.
    
    
    
    
    
    

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