segunda-feira, 23 de abril de 2012

FIO DENTAL

      Final de tarde de um domingo preguiçoso, que se estende no calor de um outono com marcas de verão pelo sol teimoso, que demora a se entregar ao horizonte... Cenário quase constante em Salvador, na Bahia, assim como em outras privilegiadas cidades brasileiras.
    Como arrematar este dia gostoso, para a gente sentir saudade depois?
    Após a alma ficar embebida destes cenários grandiosos (na Bahia tudo é grandioso!), a rota é simples: Cafeteria da Livraria Saraiva, no Shopping Salvador. O café bem servido aquece e revigora. Junto à família, tudo é festa e alegria para comemorar a vida.
    Recebemos a senha e, enquanto esperávamos, folheamos revistas e livros das estantes dali perto. Mas logo fomos convidados a sentar. Ajeitamo-nos nas cadeiras. Distraídos, animados, felizes.
    De repente,  deparo-me com uma cena chocante. Um fio dental__não, não me refiro ao biquini__ longo, as extremidades enroladas avidamente por dedos nervosos de um homem, vai à boca  com sofreguidão, se contorce várias vezes aflitivamente, retirando pedaços, farelos, fagulhas, restos de comida dentre os dentes. Triste e conturbada figura!
    Na hora achamos muita graça. Parecia uma cena de um filme  trash. Esperei, atenta ao penoso espetáculo, já que estava bem à frente deste senhor. Esquálido, estranho, olhar parado no espaço. Ao seu lado, na mesinha, nenhum lanche; somente uma pilha generosa de revistas aguardava sua atenção. Observei, curiosa. O homem iniciou sua leitura. Mas o que eu via? Não lia! Somente folheava, nervoso, quando, repentinamente, colocou uma das mãos no bolso da calça e de lá tirou outro pedaço de fio 'para talvez finalizar a limpeza dentária', pensei.
    No final do processo, jogou, como fez anteriormente, o pedaço da fita no chão, ao lado da parede; não satisfeito, enfiou o indicador na boca com a habilidade de um artista circense , rodou, escarafunchou, levou-o ao fundo da boca, trouxe o dedo mais à frente e, finalmente, depois de certificar-se com a língua de que a  toda a boca estava em ordem, passeou o dedo na revista e voltou a folheá-la.
    Costumo sempre levar comigo na bolsa (bolsa de mulher...) gel para desinfetar as mãos no caso de fazer algum lanche ou mesmo uma refeição na rua. Agora, também usarei antes de folhear revistas...
   
   
    
    

Um comentário:

  1. Kkk cena totalmente bizarra,! Incrível, mas foi verdade! Ainda bem que eu estava de costas para o sujeito!

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