terça-feira, 15 de maio de 2012

RETRATOS DA VIDA

    Entrei na loja de impressão de fotos aqui perto de casa. Existem várias, talvez uma ou duas em cada quarteirão do bairro. E conversamos eu e uma outra cliente sobre a vagareza daquela máquina, na qual ela inseriu a memória da sua Canon, para capturar mil e tantas fotos tiradas num passeio turístico ao Chile. Imagine só! Há alguns anos, teria entrado numa loja de revelação de fotos e levaria uma semana para receber as seis ou doze ou vinte e quatro revelações!...
    Mamãe com sua Kodak muito se distraiu tirando fotos minhas. Filha única, era o xodó! O álbum ficou robusto com as lembranças dos tempos de nenê, as reuniões de família, os aniversários, a primeira comunhão, com os amiguinhos nas festas da Escola exibindo as fantasias, os quinze anos. Ela tinha um prazer enorme em me arrumar, orientar o melhor ângulo, a pose e tudo o mais.
    Para ser sincera, nem sempre eu gostava daquilo. Era muitas vezes uma chateação. Ter que colocar aquele vestido novo , com o tal sapatinho de camurça vermelha, o anel , o colar...e ainda esperar a fotógrafa amadora descobrir qual seria o melhor local para determinado retrato. Precisava eu de muita paciência. Mas até que me esforçava, pois percebia o entusiasmo dela.
    Cheguei a me vestir de anjo, era bem pequena, coroei Nossa Senhora e minha mãe após toda a festa, retornando à nossa casa, no jardim,  teve a brilhante ideia de inventar a cena: o anjinho protegendo o casal de crianças ( o boneco Raul que parecia um bebê  e a boneca Rosinha que eu amava _tinha sido presente de Natal de meu tio)! O anjinho penou quase a tarde inteira!...
    Depois vieram a formatura, as turmas, os passeios cuidadosamente planejados por mim para compensar os alunos dos esforços nos estudos...  A presença de minha mãe tornou-se quase constante nos momentos alegres de minha vida. Tudo devidamente registrado por ela!
    Desenvolvi um certo gosto pela arte da fotografia . Mas não tenho como negar que, com as novas máquinas digitais, fica tudo mais fácil! Isso sem falar do celular que rapidamente registra o que queremos.
    Quem sabe eu esteja exagerando, mas acho que muitas coisas estão sendo banalizadas. Por um lado talvez isto seja conveniente; por outro, não. Automatismo, pressa, facilidades, consumismo exagerado, tecnologia avançada, tudo isso arrefece o sonhador que, geralmente, gosta de costurar ideias e ideais com a calma, a emoção  e a precisão necessárias ao burilamento do sonho.
    Desisti de esperar hoje na loja mas, amanhã, sem falta, retornarei  para imprimir numa base emborrachada de mouse a foto de uma planta aquática do Jardim Botânico, tirada por mim.   Coisas da modernidade...
   
      
   
     

2 comentários:

  1. Tenho foto em camisa, camisola, almofada.. Até caneca! Mas o álbum do meu filho ainda não consegui chegar nem no 1o mês! Fica tudo digital... Mas é tão bom olhar foto como antigamente! Vou me inspirar nessas palavras e retomar as impressões! O difícil é selecionar, já que ao invés de 36 fotos por mês, tenho 360!

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  2. Ah! Ah! Ah!... Tô dizendo... Depois que o álbum estiver prontinho, vamos curtir!...

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