domingo, 20 de maio de 2012

VIVER SEM PRESSA

    No começo do meu dia li a recomendação de Dalai-Lama:" Se tivéssemos que escolher entre conhecimento e virtude, a última seria sem dúvida a melhor escolha, pois é mais valiosa. O bom coração que é fruto da virtude é por si só um grande benefício para a humanidade. O mero conhecimento não."
    Falou tudo o mestre. Tenho comigo dar ouvidos a quem, presumo, saiba mais do que eu. Tenha mais inteligência, mais paciência, mais alegria, mais capacidade de renovação, mais silêncio, mais tolerância, enfim, sabedoria. Pessoas que nos transmitem a balbúrdia do equívoco não me interessam. Aprecio a distância nesses casos. O desinteresse é mútuo.
    Por isso procuro a companhia de quem me favorece com o seu espírito lúcido e feliz. Aqueles que transbordam amor, alegria e paz.
    Às vezes, nos deparamos com situações que nos desafiam. O mundo está cada vez mais estranho... Correm todos à procura do quê? Apressados, infelizes, desnorteados, mesmo assim ainda  palpitam sonhos nos corações inquietos. Passamos rapidamente pela vida. Aprender a viver é uma arte!...
   Hoje, à tarde, no shopping, entrei numa loja à procura de uma peça de roupa. Com calma, comecei a procurar modelos para experimentar. Sem pressa. Mas uma vendedora bem jovem, inexperiente, tentou fazer com que eu acelerasse a minha busca que poderia ter sido tão prazerosa! Mas ela ali estava, ansiosa, aflita, tentando sorrir um sorriso lacônico, falso, manco, triste, automático.
     Ia à frente, quase correndo, querendo que eu a seguisse. Pegou uma enorme sacola da loja, colocou as peças e tentava  me conduzir ao provador. Notei que meu coração havia  disparado. E lá ia ela, andava e olhava para trás, induzindo-me à uma correria desenfreada.
    Lembrei-lhe então que não funciono sob pressão, ela sorriu enigmática e continuou a sua trajetória. O provador ficava no final da loja. Quando chegamos e ela me deu a sacola para segurar e esperar a minha vez de entrar, disse-me, correndo também na voz um tanto trêmula e tíbia:" Assim que terminar, faremos seu cartão." Não me interessava  o tal cartão, mas ela não me ouvia mais. Insistia falando o texto decorado e lançou-me o desafio:" Estarei aqui por perto; é só me procurar que me acha." Sem perder o tom, enfática, sentenciei: " Chamo você com o meu super assobio! E coloquei o indicador e o polegar na boca, mostrando-lhe como ia fazer.
    Parece que consegui alguma reação sincera. A moça olhou-me espantada, afinal, uma senhora com um tom moleque a surpreendeu. Gosto disso. De surpresas.
    Não preciso dizer que, ao sair da cabine, ela não estava por ali, eu não a vi mais. Escolhi uma peça  e, finalmente, encerrei a estória. Mas registrei em mim  a afobação da funcionária que talvez deva ser motivada pela quantidade de clientes que atender; não pela gentileza real e pelo sorriso espontâneo que certamente cativariam a sua clientela.
    Como ela mesma disse, ali é tudo rapidinho, mostrando o gesto da pressa com as mãos magras e nervosas.
    Voltei para o meu silêncio, longe do burburinho enlouquecido. Voltei para o meu aconchego onde respiro serenidade. Voltei para a minha paz, onde os pássaros me esperam.

   
   
      
   
   
   

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