Minha amiga foi ao Banco. Calça blue jeans, sapatilha e bolsa pretas, blusa de malha branca com mangas compridas e um casaquinho básico, em tom vermelho-carmim. Mas estava bonita. Caprichosa, brincos em forma de coração vermelho e um anel de pérolas com a imagem de uma Santa a enfeitavam na medida. Os cabelos soltos,naquele tom de mel que tanto a favorecia.
O sorriso esbanjando simpatia estampado em vermelho vivo, do batom da Boticário. Sobrancelhas realçadas com um lápis próprio e um rímel da Natura passado delicadamente compunham o visual do rosto que nos remetia à lembrança de Audrey Hepburn.
Já não é a primeira vez ("_E nem será a última!", garante-me ela,rindo) que a moça do caixa encrenca com ela na fila dos idosos. Olha-a de alto a baixo, desnudando-a , com uma expressão no rosto que, faça-nos o favor, ninguém merece!
Além da desconfiança de que minha amiga esteja enganando a idade, mostra uma certa maldade.Hoje fui testemunha. Tratou-a com rispidez, com secura na voz e no olhar. Foi perversa.
Quer dizer que, além da mulher ter que se acostumar com a chegada daquela fase de que ninguém gosta...velhice !... , ainda tem que ficar comprovando o fato. Ora, ora!... É crueldade demais! Ou seria inveja?
Dia desses fomos ao cinema. Quando chegamos ao guichê aconteceu a mesma contrariedade. Foi desacreditada, mesmo ao mostrar a carteira de identidade. A funcionária sorriu de lado, maliciosa, um tanto irônica e não adiantou a minha amiga dizer que já tinha sessenta. A mocinha não acreditou. Duvidou da legitimidade da carteira de identidade!...
Mas teve que aceitá-la. E minha amiga sorriu, feliz. Afinal, ainda estava em boa forma.
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